Friday, April 20, 2007

Sinceridade

Maria Eduarda se despiu. De suas roupas e de toda a culpa impregnada em sua criação cristã ao tirá-las na casa de um estranho. Ajoelhou-se, com seus olhos de cachorros tão sinceros e amorosos. O amava. Mesmo que o conhecesse por algumas horas, sabia que o amava mais do que tudo naquele momento. Aquele ritual era quase religioso: ajoelhar, engolir o gozo para, enfim, dormir tranquilamente.
Ele a olhava e não havia como negar aquilo que ela pedia. Pedia não, implorava com aqueles olhos. Alguns segundos depois já a odiava. Aquele corpo estranho de mulher em seus lençóis comprados por sua mãe. Sentiu repulsa, dela e de si mesmo.
- Essas putinhas que procuram amor no meio das pernas. Lolita Pilles do inferno!

Maria Eduarda era uma deusa. Lindíssima, macérrima, cheia de extremos. Não havia como não desejá-la até mesmo quando ela acordava de seu breve sono e vestia apressadamente seu vestido amassado. Como deusas se transformam em seres desprezíveis após uma gozada? Ela, provavelmente, seria a última a desvendar esse mistério.

- Já vai?
- Sim... trabalho amanhã, essas coisas.
- Claro. Bem, você pode ligar, sabe? A gente deveria fazer isso novamente.
- Ahm, claro.

Olhou para os lençóis dele novamente. Nunca havia visto lençóis tão sagrados e meticulosamente escolhidos pelo dedo materno. Disse adeus. Sabia que era a última vez que o via.
- Esses filhinhos de mamãe que brincam de viver. Patéticos!